Lições de um domingo no parque

Um dia ensolarado de inverno é motivo para famílias inteiras fazerem o tradicional passeio domingueiro nos parques. Hoje, leia-se: um filho ou dois no máximo e uma legião de cães de todas as raças, pelagens e cores, prontos para brincar com quem os ama, para fazer suas necessidades fisiológicas, para correr esbaforidos entre nós, humanos. Fiéis aos donos, esses bichinhos obedecem, brincam, pegam a bolinha e a devolvem com a mesma pressa em busca de simples atenção e carinho. São alvo de conversas fortuitas entre estranhos e desculpa para o início de paqueras. Enfim, motivo de alegria dentro e fora de casa.

Já os pequenos humanos têm lá suas vontades. Aí vejo a cena: pais e mães carregando seus bebês, aflitos em busca da melhor luz do dia para eternizar momentos únicos ao ar livre. Com fotógrafo contratado, parentes à volta,  as poses se multiplicam e os cenários também. Na arvorezinha, na mini-rede, nas pedras, como se fossem um personagem estático, feito de borracha. O problema é que não são. Os bebês choram e se indispõem. Vêm com sua própria energia vital ao mundo, alheios ao festival de imagens, aparelhos e telinhas que insistem tanto em enquadrá-los na melhor definição. Querem simplesmente receber aquela luz do dia e um abraço, e quem sabe interagir com seu jeito atrapalhado e imaturo de ser, de balbuciar palavras, sons e sensações. Querem experimentar a vida sem fazerem parte de um roteiro de filme.

Estava deitada sob a sombra de uma dessas árvores, quando me deparei com o fato. Tinha em mãos justamente uma crônica do jornalista Ivan Martins, que escreve sobre relacionamentos. Ele falava da importância de guardarmos certas experiências como joias, sem necessariamente fazermos seu compartilhamento com todo mundo, expostos ao julgamento alheio. Imediatamente fiz associações com nossas vidas de adultos. Tantas vezes nos inflamos na terra rasa da superficialidade, da super exposição, da felicidade midiática, da ânsia de ter público e imagens para nossos momentos mais sagrados. Há que se preservar certas vivências dentro de nossa memória.  Do contrário, como diz Martins,”pedaços valiosos da experiência humana tornam-se distração e frivolidade”. Voltando às crianças, ninguém está dizendo que registrar lindas fotos da infância não é belo e essencial, mas há situações que pedem apenas e – simplesmente – espontaneidade. Aguardar um momento verdadeiro para o “clic”. Aí, sim, virão imagens inesquecíveis. Menos é mais!

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