Tantos apregoam a morte da poesia, porém sinto-a mais forte do que nunca. Abrir um livro de poemas é navegar no indecifrável mundo das emoções e trazê-lo à luz do dia, refrescante, pulsante. Enquanto a prosa nos invoca à realidade externa, à descrição das narrativas, a poesia nos traz ao mundo interior onde não há fronteiras para a imaginação, onde “o que é sólido se desmancha no ar”.
Nas livrarias, em meio aos best-sellers e publicações de auto-ajuda, encontro algumas joias que compartilho com os leitores. Este autor me escolheu. É o jornalista, biólogo e escritor moçambicano Mia Couto. Uma de suas frases: “O poeta não quer escrever. Apenas ser escrito”. Como define José Castello, na apresentação da obra: (…)”Só uma parte da existência cabe ao poema. A maior parte esbarra no muro das palavras e permanece do lado de fora”.
Seleciono um poema:
Danos e enganos
Aquele que acredita ter visto o mundo,
não aprendeu a escutar-se no vento.
Aquele que se deitou na terra,
vestiu sonhos como se fossem vidas
e tudo o mais fossem regressos.
Mas aquele que tocou o fruto
provou a inicial doçura do tempo.
E quando tombou
de si mesmo se fez semente.
Do livro Poemas Escolhidos – Companhia das Letras