Raridade até em sebos, a primeira edição do livro de poemas Outubro, de Nei Duclós, lançado em 1976 pelo Instituto Estadual do Livro e a Editora A Nação, está há muito tempo esgotada. O sucesso das poesias impulsionou o escritor a fazer a segunda edição do livro em homenagem aos 40 anos da obra. E para prestigiar este momento, entrevistamos o poeta. Confira!
1) Quais as suas principais histórias como escritor?
Sempre conto a mesma história sobre a origem da minha poesia. Aos nove anos fui conhecer o mar. Descobri então uma paisagem idêntica ao meu torrão, a fronteira do Rio Grande do Sul. Só que em vez do pampa fixo, aquele campo estranho e assombroso se movimentava! Entrei dando soco nas ondas (era o mar agitado do Imbé, litoral do RS). Quando voltei para casa, fiz meu primeiro poema. E depois, inúmeros outros. Outra história importante é quando fomos expor poemas reproduzidos em cartolina nas praças de Porto Alegre, Rio e São Paulo, em 1969.
2) Do livro Outubro, que completa 40 anos, qual a poesia mais marcante?
O próprio poema Outubro, que é a definição da minha linguagem, para onde deságua o lirismo clássico da poesia brasileira somado às revoluções contemporâneas da linguagem. Palavras em consonância permanente, como tudo, luto, bruto, outubro dialogam num poema enxuto, mas contundente. Outubro é um achado, que influenciou o resto da minha poesia. Mas há outros poemas fortes como Lição de Travessia (o mundo não tem lado certo/ pois há uma ponte sólida por cima de todas as águas), Salvação (estar a salvo não é se salvar), Carta ao amigo (embora não acredites, estou tão habitado que pareço um mar), Quero um sorriso (quero um sorriso que dure uma quadra e dobre a esquina a iluminar-me) e Manhã (acordo a casa, abro a porta e a brisa vem bater na clara clara da mulher que eu gosto, deitada em paz e glória).
3) O que podemos esperar do lançamento do seu novo livro?
Uma edição primorosa, ao mesmo tempo fac-similar e enriquecida de fortuna crítica do autor e depoimentos de leitores de várias idades e procedências, além de trechos de resenhas que celebraram ao livro quando foi lançado. A nova edição mantém a força e a contundência da edição original e oferece um livro de luxo, com papel couchê, capa envernizada com alto relevo no título e no nome do autor, produção gráfica de primeira etc. É um resgate emocionante de um livro que extrapola a época em que foi lançado e chega até nós cercado do carinho dos leitores.
4) Qual o grande atributo de um poeta?
Dedicar-se integralmente à sua arte, aprofundá-la, desdobrá-la em vários vetores e mantê-la aberta às influências dos mestres. Vesti-la para o bom combate, pois a poesia é uma linguagem poderosa da livre expressão, e fala aos contemporâneos enfrentando outras linguagens impositivas, como a corporativa, a política, a religiosa etc.
Mais sobre o autor
Natural de Uruguaiana, RS, Nei Duclós, 68, estreou como poeta pregando poemas em cartolina nas árvores das praças da Alfândega de Porto Alegre, da República, em São Paulo e General Osório no Rio de Janeiro, junto com outros autores da mesma geração. Lançou seu primeiro livro, Outubro, em 1976, pelo IEL/A Nação. Em 1979, foi a vez de No Meio da Rua, pela L&PM, e No Mar, Veremos, pela Editora Globo em 2001, além de Partimos de Manhã, em 2012, pelo IEL/Corag, todos de poesia. Estreou como romancista com Universo Baldio pela Francis em 2004 e publicou em 2015 o romance Tudo o que pisa deixa rastro (Edição do Autor, patrocínio da Petrobras Cultural). Publicou o livro de contos e crônicas O Refúgio do Príncipe em 2008, pela Editora Empreendedor. E um livro de ensaios em 2014 pela Editora Unisinos, Todo filme é sobre cinema.
Nos últimos anos, lançou vários e-books de poesia, ensaios, contos e crônicas. Trabalhou em importantes veículos de comunicação como Folha de S. Paulo, IstoÉ, revista Senhor, entre outros. Foi colaborador de Veja e Estadão com resenhas de livros. É formado em História pela USP desde 1998.
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