É possível passar de vítima para autor da própria realidade por meio da palavra e da escuta assertivas.
Quando o personagem da história do Aladim solicita os seus desejos ao gênio da lâmpada, ele conquista o que quer por meio de seus pedidos verbais. Também na Bíblia podemos reconhecer a força do Verbo: “Disse Deus: Haja luz; e houve luz (Gn, 1,3)”. Enfim, estamos conscientes de que a palavra e nossa comunicação verbal são importantes, sendo um recurso poderoso para criarmos a nossa realidade.
Porém, estamos condicionados a, diariamente, reclamar e a destacar nossas perdas e falhas no lugar de observar os ganhos. Estamos acostumados a perceber o que nos falta, sem olhar para tudo o que sobra. Mas a má comunicação ultrapassa os nossos níveis mentais e chega, com agressividade, às pessoas com quem nos relacionamos no trabalho ou em nossos lares.
Na escola nos ensinaram algumas disciplinas úteis. No entanto, não aprendemos a comunicar de forma eficaz nossas necessidades e criar empatia com as pessoas do nosso convívio ou, ainda, resolver nossos problemas por meio da conversa. Um autor desconhecido afirma que 10% dos nossos problemas são criados por divergências de opinião entre as pessoas. Em contrapartida, 90% dos nossos conflitos ocorrem pelo nosso tom de voz.
Estamos num tempo de despertar e de maior consciência de nossos atos e, para os que não acreditam nisso, sempre é momento de melhorar nossas habilidades, não é? Portanto, a dica de leitura do livro Comunicação Não-violenta (CNV) de Marshall Rosenberg (1934- 2015), é pertinente. O autor, nascido em Detroit (EUA) e radicado na Suíça, trabalhou com resolução de conflitos ao longo de sua trajetória de vida, introduzindo programas de paz na Sérvia, Croácia, Burundi e Sri Lanka. Fundou, na Califórnia, um Centro de Comunicação Não-Violenta, o qual oferece treinamentos para esta técnica de comunicar em diversos países. Segue um resumo de partes relevantes da obra:
Informando nossas necessidades: Infelizmente, não fomos orientados, na nossa infância, a pensar e expressar nossos sentimentos. Aprendemos desde cedo a pensar o que está errado nas coisas e pessoas. É mais costumeiro classificar as pessoas de “preguiçosas”, “irresponsáveis” ou “distantes”, no lugar de percebemos a nossa necessidade de manter, por exemplo, a toalha de banho estendida invés de atirada na cama (organização). Porém, ao julgarmos, o interlocutor recebe a mensagem como uma crítica. Assim começa o conflito.
Criando empatia: Outro passo da CNV é evitar frases ambíguas e formular nossas solicitações na forma de ações concretas que os outros possam realizar. Fundamental também é a empatia numa comunicação. De acordo com o autor, nós dizemos muitas coisas ao escutarmos os sentimentos e necessidades de outras pessoas. A ideia aqui é nos conectarmos com os sentimentos e necessidades do interlocutor, mostrando nossa vulnerabilidade quando oportuno. “Quanto mais temos empatia pela outras pessoas, mais seguros nos sentimos”, diz Marshall. O essencial da empatia é estarmos presentes em relação ao que realmente está acontecendo dentro da outra pessoa. Se entendermos que todos os Seres Humanos têm praticamente as mesmas necessidades, perceberemos que por trás de uma história, de um fato ou problema do interlocutor, há um sentimento que tem origem em uma necessidade não atendida.
Resolvendo problemas: Quatro passos fazem parte da técnica apresentada para comunicar com mais assertividade:
1) Observar o fato sem julgar. O exemplo da toalha na cama se encaixa muito bem.
2) Perceber o sentimento que está lhe causando aquele fato (alegria, alívio, curiosidade, segurança, serenidade, com raiva, irritação, angústia, susto, entre outros).
3)Perceber quais necessidades humanas não estão sendo atendidas (temos todos necessidades de autonomia, lazer, integridade, interdependência, comunhão espiritual, necessidades físicas). Quando as pessoas comunicam o que precisam (exemplo: organização do ambiente) em vez que expressar o que está errado, as possibilidades de sucesso são muito maiores.
4) Pedir de forma objetiva e positiva o que deseja em relação àquele fato, pois os pedidos são interpretados como exigências quando o ouvinte acredita que será culpado ou punido caso não atender. Portanto, o autor recomenda que formulemos pedidos com linguagem clara, positiva e de ações concretas, assim como o Aladim lá do início do texto.
Demasiado desafiante é resumir uma técnica de Comunicação baseada em compaixão, honestidade e assertividade em poucas linhas. Porém, é crucial termos consciência de que somos agentes atuantes de nossas realidade e que podemos viver com mais harmonia melhorando nossa forma de comunicar. O gênio da lâmpada da vida real é qualquer pessoa – basta que saibamos solicitar de forma clara o que precisamos para enriquecer, de fato, nossas vidas.
O texto acima é uma colaboração da jornalista Priscila Almeida ao blog. Namastê, Priscila!!